Mini-Curso sobre Evidencialismo

May 23, 2024
Tommaso Piazza

Università di Pavia

 

1ª Sessão: 23 Maio 2017, 14:00-16:00, sala Mattos Romão, Faculdade de Letras

Internismo, Externismo e Evidencialismo

A primeira aula apresenta a distinção entre o Externismo e o Internismo, e introduz o Evidencialismo (EV), isto é, a teoria defendida por Conee e Feldman, como sendo uma teoria internista da justificação epistémica. Estas posições oferecem respostas diferentes à questão de saber qual a natureza dos factores relevantes para a justificação epistémica. Conforme alega o internismo, que é a posição mais ortodoxa (defendida, entre outros, por Descartes, Locke e Hume), um factor F é relevante para a justificação da crença de que P se e somente se F é interno à perspectiva epistémica do sujeito. O externismo, que é uma posição mais recente, comummente associada ao nome de Goldman, afirma que a justificação de uma crença é uma função da fiabilidade do processo psicológico responsável pela sua formação. Uma forma de se especificar a condição internista é requerer que F seja introspectivamente acessível. O Evidencialismo oferece uma interpretação diferente. Um factor F, defendem os evidencialistas, é interno à perspectiva do sujeito apenas na condição de ser um estado mental do sujeito. A esta tese, Conee e Feldman chamam Mentalismo. Mais em particular, o evidencialismo envolve um compromisso com a tese de que o sujeito S tem justificação para acreditar que P se e somente se a evidência ao dispor de S suporta P.

 

2ª Sessão: 25 Maio 2017, 14:00-16:00, cave F1, Faculdade de Letras

O Evidencialismo Esquadrinhado

O princípio evidencialista levanta três questões: (1) Que tipo de entidades constituem a evidência de S? (2) Em que condições é que a evidência E de S suporta P? (3) Em que condições é que S possui E? Nesta segunda aula, apresentarei as respostas defendidas pelos evidencialistas contemporâneos para estas questões, e as críticas que tais respostas têm suscitado. Em resposta a (1), Conee e Feldman (e, mais recentemente, McCain) têm defendido a tese psicologista de que a evidência é constituída por estados mentais do sujeito. Esta tese é muito naturalmente associada ao Mentalismo, mas não é uma sua consequência lógica. Em resposta a (2), tem sido defendida a tese explicacionista de que a evidência E suporta P se e somente se P faz parte da melhor explicação da existência de E que S tenha ao seu dispor. Em resposta a (3), tem sido defendido que E faz parte da evidência de S apenas na condição de ser um estado mental ocorrente de S. Relativamente à primeira resposta, discutirei a objecção de Williamson, segundo a qual a evidência de um sujeito só pode ser constituída por proposições (conhecidas pelo sujeito). Relativamente à resposta a (2), discutirei duas objecções: (i) o facto de P ser suportada por E pode não ser suficiente para P ser justificada por E em casos em que E seja o resultado de uma investigação intelectualmente não virtuosa (por exemplo, de uma pesquisa preguiçosa, ou dominada por preconceitos); (ii) há vários casos em que uma crença P é justificada inferencialmente pela crença E por E implicar P; nestes casos, normalmente, P não faz parte da melhor explicação para a existência da crença em E e, portanto, é em casos como estes que a crença em P não seria suportada por evidência ao dispor do sujeito. Relativamente à resposta a (3), discutirei a objecção segundo a qual, ao excluir da evidência do sujeito estados mentais disposicionais do mesmo, o Evidencialismo não estaria em condições de explicar a justificação de muitas crenças adquiridas no passado e guardadas na memória do sujeito.

 

Entrada Livre